A importância da validação da dor

A importância da validação da dor

Nesse artigo iremos compartilhar o relato de uma paciente sobre como é fundamental que profissionais de saúde saibam realizar a validação da dor das mulheres que sofrem de endometriose. Confira.

Escrito por Ana Couto

Recentemente fiz minha terceira cirurgia de endometriose, mas foi a minha primeira com um especialista em excisão, que inclusive trabalha em um hospital reconhecido com centro de excelência no tratamento de endometriose.

A questão central sobre esse texto é que em nenhum momento eu tive que justificar minhas dores e sintomas.

Encontrando a gentileza e validação da dor

Enquanto eu estava deitada na sala do pré-operatório, uma mulher muito gentil entrou para se apresentar, não me lembro seu nome, mas ela me informou que outra enfermeira viria em breve para saber mais sobre o procedimento.

Em algum momento a enfermeira responsável chegou e me perguntou qual era meu nível de dor. Eu estava me sentindo muito bem e disse: “minha menstruação terminou há uma semana, aproximadamente. Eu diria que estou entre 2 e 3”. (Nota explicativa: eu quase nunca estou no nível 0. Entretanto, mesmo prestes a realizar uma cirurgia para endometriose, quis ajudar outra pessoa a sentir-se melhor sobre minha dor).

Logo em seguida ela me perguntou: “ e qual o número que você deixa atingir antes de tomar remédios para dor?” No que eu respondi: “8 ou 9”.

“Foi o que eu pensei”, ela me disse, de um jeito que deixava evidente que ela já tinha ouvido isso antes.

Não foi o que ela disse, e sim o porquê ela disse

A enfermeira não queria que eu sentisse dor, especialmente depois da cirurgia. Então, ela me tranquilizou e disse que caso os analgésicos não estivessem surtindo efeito, eu deveria informá-la imediatamente.

Depois de conversar comigo, ela chamou a outra enfermeira de canto e pude ouví-la dizer algo como:

“As pacientes que chegam para uma cirurgia de endometriose, estão sofrendo com dores severas há tanto tempo que elas não pedem por medicação até que estejam com um nível de dor realmente alto. Então você precisa deixá-las completamente à vontade para pedir ajuda a qualquer momento.”

A enfermeira-chefe estava aproveitando esse momento para ensinar algo importante. A sua experiência permitia saber que as mulheres com endometriose vivem com dores crônicas não tratadas e que isso precisa ser levado em consideração a cada procedimento. O que mais me impressionou foi a maneira direta com a qual ela conversava com a outra enfermeira. 

Como a validação da dor me deixou à vontade

Eu tenho todo um discurso preparado para os médicos quando o assunto são minhas dores e a prescrição de remédios. Eu deixo bem claro como me sinto e que existem sintomas incapacitantes que me impedem de sair da cama ou caminhar. Mesmo assim, muitas vezes eu percebo uma certa resistência ou descrédito por parte de alguns profissionais.

Porém, aquela enfermeira conversou comigo e sobre mim com tanta empatia. Eu fiquei surpresa, grata e tranquila ao sentir que ela sabia que eu não estava inventando nada daquilo.

Talvez fosse a vulnerabilidade que acompanha uma cirurgia, mas a sensação de calma que me invadiu naquele momento foi maravilhosa. Infelizmente, isso não é algo tão comum quanto deveria ser nos tratamentos de endometriose.